O Papa Francisco escreveu um texto, divulgado pelo jornal italiano “Il Piccolo”, afirmando que a democracia define-se pelo trabalho conjunto em prol de resolver os problemas que “pertencem” e “dizem respeito a todos”.
“A democracia tem em si um grande e indubitável valor: o de estar ‘juntos’, o facto de o exercício do governo se realizar no contexto de uma comunidade que se confronta livre e secularmente na arte do bem comum, que nada mais é do que um nome diferente para o que chamamos de política”, afirmou, informa o portal de notícias do Vaticano.
O texto é uma introdução ao livro “No coração da democracia”, uma antologia de discursos e mensagens papais, que o jornal “Il Piccolo” e a Livraria Editora Vaticana disponibilizam gratuitamente no domingo, 7 de julho, aos leitores, no âmbito da visita do Papa à cidade italiana de Triste para encerrar a 50º Semana Social dos católicos do país.
Embora se tenha “espalhado globalmente nas últimas décadas”, o Papa destaca que a democracia “parece estar a sofrer as consequências de uma doença perigosa, o ‘ceticismo democrático’”.
A dificuldade das democracias em assumir a complexidade do tempo presente – pensemos nos problemas da falta de emprego ou no paradigma tecnocrático avassalador – às vezes parece ceder ao fascínio do populismo”, alerta.
Francisco recorda as palavras do padre Lorenzo Milani (1923-1967) e crianças numa carta magistral a uma professora: “Aprendi que o problema dos outros é igual ao meu. Sair disso juntos é política, sair sozinho é avareza”.
“Sim, os problemas que enfrentamos pertencem a todos e dizem respeito a todos. O caminho democrático é discutirmos juntos e saber que só juntos esses problemas podem encontrar solução”, realça.
“Pensando hoje no que significa o ‘coração’ da democracia: juntos é melhor porque sozinho é pior. Juntos é bonito porque sozinho é triste. Juntos, significa que um mais um não é igual a dois, mas sim a três, porque a participação e a cooperação criam o que os economistas chamam de valor adjunto”, defende o Papa.
É na palavra “participar” que, segundo Francisco, se encontra o “significado autêntico do que é a democracia” e do que significa “ir ao coração de um sistema democrático”, comparando ao regime estatista em que “ninguém participa, todos assistem, passivamente”.
“A democracia, por outro lado, exige participação, a exigência de fazer a própria parte, de arriscar o confronto, de trazer seus próprios ideais, as suas razões, para a questão. Arriscar-se”, sublinha.
No entanto, “o risco é o terreno fértil onde germina a liberdade”, enquanto, pelo contrário, ficar à janela para ver o que está a acontecer ao redor, não só é eticamente aceitável como, mesmo numa perspetiva egoísta, não é sensato nem conveniente, referiu.
O Papa sublinhou que “são muitas as questões sociais” sobre as quais todos são “democraticamente” chamados a interagir.
“Pensemos num acolhimento inteligente e criativo, que coopera e integra as pessoas migrantes, um fenómeno que Trieste conhece bem por estar perto da chamada rota dos Balcãs; pensemos no inverno demográfico que afeta agora de forma generalizada toda a Itália e, em particular, algumas regiões; pensemos na escolha de políticas autênticas para a paz, que coloquem em primeiro lugar a arte da negociação e não a escolha do rearmamento”, exemplificou.
No final do texto, o Papa desejou que da cidade de Trieste, “cidade sobranceira ao Mar Mediterrâneo, caldeirão de culturas, religiões e povos diferentes, metáfora da fraternidade humana”, brote “um empenho mais convicto por uma vida democrática plenamente participativa e orientada para o verdadeiro bem comum”.
O Papa Francisco encerra este domingo, na cidade italiana de Trieste, a 50.ª Semana Social dos Católicos, o encontro plurianual da Conferência Episcopal Italiana (CEI) que aprofunda e relança a mensagem social cristã e orienta a ação dos fiéis nas várias categorias do mundo do trabalho.