O Papa alertou para a “falta de reconhecimento” das mulheres na Igreja, problema que ligou ao “flagelo do clericalismo”, num texto inédito para um livro de três teólogas e dois cardeais.
“Escutando as mulheres, sem julgamentos e sem preconceitos, apercebemo-nos que, em muitos lugares e em muitas situações, elas sofrem precisamente por causa da falta de reconhecimento do que são e do que fazem, e também do que poderiam fazer e ser se tivessem espaço e oportunidades”, escreve Francisco, no prefácio da obra ‘Mulheres e Ministérios na Igreja Sinodal’.
“As mulheres que mais sofrem são, muitas vezes, as que estão mais próximas, as mais disponíveis, preparadas e prontas para servir Deus e o seu reino”, acrescenta.
O texto, divulgado pelo jornal do Vaticano, ‘L’Osservatore Romano’, alude a um “certo sofrimento das comunidades eclesiais relativamente à forma como o ministério é entendido e vivido”.
“O drama dos abusos obrigou-nos a abrir os olhos para o flagelo do clericalismo, que não afeta apenas os ministros ordenados, mas uma forma distorcida de exercer o poder dentro da Igreja, na qual todos podem cair: mesmo os leigos, mesmo as mulheres”, adverte.
O livro recolhe reflexões de três teólogas e dois cardeais: a irmã Linda Pocher, das Filhas de Maria Auxiliadora, professora de Cristologia e Mariologia, em Roma, que também assina a introdução; Jo Bailey Wells, bispa da Igreja de Inglaterra e subsecretária-geral da Comunhão Anglicana; Giuliva Di Berardino, consagrada do ‘Ordo Virginum’ da Diocese de Verona, liturgista; D. Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo e relator-geral da 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos; e D. Seán Patrick O’Malley, arcebispo de Boston e presidente da Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores.
As três teólogas estiveram, em fevereiro deste ano, numa reunião do conselho consultivo de cardeais, criado pelo Papa, para falar sobre os ministérios na Igreja e o papel das mulheres.
Francisco assume a necessidade de promover uma reflexão sobre os ministérios na comunidade eclesial, sem “desligar-se completamente do contexto” em que se encontra.
“O processo sinodal, como processo de discernimento, parte da realidade e da experiência, em diálogo aberto e fidelidade criativa com a grande tradição que nos precedeu e nos acompanha”, aponta.
O documento do trabalho para a próxima Assembleia Sinodal, que vai decorrer em outubro, no Vaticano, desafia os participantes a “explorar outras formas ministeriais e pastorais” para valorizar o papel das mulheres nas comunidades católicas.
“Os contributos recolhidos em todas as fases evidenciaram a necessidade de conferir um maior reconhecimento aos carismas, às vocações e ao papel das mulheres em todos os aspetos da vida da Igreja”, indica o texto, divulgado esta terça-feira.
Quanto ao tema do diaconado feminino, o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, precisou que o mesmo não será abordado na próxima Assembleia por ser objeto de um dos grupos de estudo instituídos pelo Papa, para aprofundar a reflexão teológica e pastoral sobre questões específicas.
A reflexão foi confiada ao Dicastério para a Doutrina da Fé, “no contexto mais amplo das formas ministeriais”, em colaboração com a Secretaria-Geral do Sínodo.
OC