Ultimo adeus ao padre Bernard Ducrot

Ultimo adeus ao padre Bernard Ducrot

Os restos mortais do Missionário Francês da Congregação dos Missionários do Espirito Santo Padre Bernard Ducrot, de 73 anos de idade que faleceu no sábado vítima de doença, foram a enterrar nesta terça-feira a tarde no Cemitério do Bem Fica Aqui em Luanda.

O Funeral foi antecedido de uma missa Exequial de encomendação que teve lugar no Centro Espirito Santo afecto a Paróquia de São Pedro Apostolo do Prenda e foi presidida pelo Arcebispo de Luanda Dom Filomeno do Nascimento Vieira Dias, concelebrado pelo Bispo de Cabinda Dom Belmiro Thissenguete, de Caxito Dom Maurício Camuto e por dezenas de Sacerdotes vindos de diversos pontos do País.

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Padre Bernard DUCROT com 73 anos de idade,

filho de René Ducrot e Lucie Essner, nasceu aos 05/09/1948 em Paris (França). Entrou no Noviciado da Congregação do Espírito Santo em 1967, tendo professado aos 27/09/1968 e sido ordenado presbítero aos 21/06/1975.

Em Outubro de 1977, chega a Angola. 

Em 1978, é colocado em Malanje na Escola de catequistas.  

Em 1980, vai como professor para o Seminário Interdiocesano de Cristo-Rei (Huambo).

Em 1981, regressa novamente para Malanje.

Em 1986, volta para o Seminário de Cristo-Rei, no Huambo, como Ecónomo e professor.

De 1989 a 1995, exerce, em Luanda, as funções de Ecónomo provincial e de colaborador pastoral na Paróquia de S. Pedro Apóstolo do Prenda onde apôs sua marca na organização e escritura de livros de registos da Confirmação no tempo do P. Abílio Guerra.

Em 1995, parte para a Europa para um ano de reciclagem.

Em 1996, regressa para Angola, sendo colocado na Missão de Malanje.

Em 1998, é chamado pela Província de França para se ocupar da Direcção do Escolasticado de Clamart até 2003, ano de regresso para Malanje. 

A partir de 2012, na Arquidiocese de Malanje, partilhava seu tempo de trabalho como ecónomo do Seminário Médio espiritano e assistente religioso da Missão Católica de Kiwaba Ndjozi.

A vida de Bernard Ducrot foi uma vida dedicada e consagrada totalmente à causa missionária na linha dos seus predecessores vindos de sua terra-natal, a França (e não so!), há uma centena e meia de anos. Num momento em que Angola ia já no seu 2º ano de Independência, e, numa atmosfera de alguma tensão sócio-política no rescaldo dos acontecimentos dramáticos vindos do fraccionismo, mesmo sabendo que o País optara pela via marxista, e, ipso facto, com alguma hostilidade à Igreja, ele não hesitou, com mais um companheiro e compatriota, em deixar sua terra e vir cá como missionário. 

Na óptica de seu ex-confrade, o saudoso Bispo Dom Benedito Roberto Cssp, ele era mesmo missionário como os antigos espiritanos que o prelado conhecera! Com efeito, ele calcorreava aldeias da jurisdição pastoral da Missão Católica de Kiwaba Nzoji, ficando por lá o tempo achado necessário, ensinando, escutando e procurando aprender, tanto quanto possível, variados aspectos da cultura kimbundu. Empenhou-se verdadeiramente na Inculturação. É assim que deixou algo escrito nesse sentido, servindo de referência para estudiosos. 

Era um homem que primava muito pela organização e pelo método no seu trabalho e até no vestir! Gostava de ver as coisas no seu lugar e no devido tempo. Demonstra-o o facto de que, depois de começar a missa, mandava fechar as portas da Igreja para não haver mais ninguém a incomodar! 

Não deixava dúvidas para quem precisasse de fazer consultas ao seu trabalho e/ou de lhe dar continuidade. Tal aconteceu no Economato do Seminário de Cristo-Rei, no Economato provincial, na reorganização da escola de catequistas, etc. 

Em comunidade, era um confrade não conflituoso, agradável e com convicções próprias não se deixando influenciar facilmente. Falando, por ex.,          de feitiço, sua visão era a de que a crença nessa coisa melindrosa é que ocupava grande parte na mente das pessoas e as fazia mover. E quando se trata de crenças e convicções, pouco há a fazer!

Mesmo no meio de tanto trabalho, devido ao seu espírito metódico e organizativo, tinha ainda tempo para ler e escrever. É assim que deixou certo património nesse aspecto. Destacamos as seguintes obras: (i) “Colectânea de 86 contos em Kimbundu”; (ii) “Jinongonongo” (564 adivinhas kimbundu classificadas por temas), (iii) “As Parábolas” (Contos e Provérbios do Evangelho),             (iv) “Compilação de Gramática da Língua kimbundu”, (v) “Jisabu” (633 Provérbios kimbundu classificados por temas), (vi) “Os jovens e o casamento” (autoria com P. Manuel Gonçalves cssp). Era também grande apaixonado pela Sagrada Escritura,             sabendo adaptá-la à índole cultural do povo malanjino. Deixou, por isso,            ainda muitos boletins informativo-formativos para as comunidades e catequistas das aldeias. 

A Província espiritana de Angola perde uma grande figura, um imbondeiro, que tinha uma mística e uma garra dos antigos missionários espiritanos que tanto contribuíram, desde 1866, para a 2ª evangelização de Angola. Outrossim, agradece à sua família de sangue pelo dom generoso de seu filho à Igreja, à Congregação e a Angola e a Malanje, localidade onde ele dedicou e consagrou quase toda a sua vida. 

Paz à sua alma. E oxalá que sua vida sirva de exemplo e estímulo para muitos jovens, ou pelo menos um ou outro, que o possam substituir na imensa messe o Senhor na senda espiritana. 

Luanda, 24/10/2021, Dia Mundial Missionário