O ex-mordomo do papa Bento XVI que está sendo julgado por roubo e vazamento de documentos papais, Paolo Gabriele, possuía mais de mil documentos que o pontífice tinha marcado "para serem destruídos", informou a polícia em depoimento durante o julgamento no Vaticano, na quarta-feira.
No terceiro dia do processo, realizado com base no Código Penal italiano do século XIX, membros da pequena força policial da Santa Sé disseram que o roubo de documentos criptografados havia comprometido algumas operações do Vaticano.
Eles também encontraram instruções que Gabriele tinha impresso sobre como ocultar arquivos em computadores e como usar celulares de forma secreta.
Membros do Corpo de Gendarmerie afirmaram que muitos recortes de jornais, livros e muitos outros materiais apreendidos na busca no apartamento de Gabriele mostraram que ele era fascinado por ocultismo, lojas maçônicas, serviços secretos e os recentes escândalos do Vaticano e da Itália.
"Eles (os documentos de acusação) não estavam todos em um só lugar. Eles estavam escondidos entre milhares de páginas", disse o policial Stefano De Santis, um dos agentes que revistaram a casa de Gabriele, ao tribunal. Alguns papéis, disse De Santis, tinham a caligrafia do papa em que ele havia marcado "para serem destruídos".
A série de documentos incriminatórios inclui cartas pessoais entre cardeais, o papa e políticos sobre uma variedade de assuntos. De Santis disse que a busca trouxe à luz "muitos outros" papéis dos que apareceram em um livro escrito por um jornalista italiano que denunciou a suposta corrupção no Vaticano.
"Você pode entender o nosso desconforto quando vimos esses documentos. Esta foi uma total violação da privacidade da família papal", disse, usando um termo do Vaticano para os assessores mais próximos do papa, que o servem em seus aposentos privados.
O julgamento foi adiado até sábado, quando a acusação e a defesa irão finalizar e os três juízes deverão chegar a seu veredicto.
Gabriele, que diz que levou os documentos porque viu "maldade e corrupção em toda a Igreja", corre o risco de pegar até 4 anos de prisão, se for condenado. Mas é amplamente esperado que o papa o perdoe.
Policiais que depuseram na audiência de quarta-feira, também refutaram as acusações de Gabriele, feitas na terça-feira, de que foi maltratado por várias semanas depois de sua prisão.
Reuters