É uma forte chamada à «grave responsabilidade de se comprometer pela paz» que compete antes de tudo às «autoridades civis e políticas» o ponto fulcral do discurso dirigido esta manhã, segunda-feira 7 de Janeiro, por Bento XVI aos membros do corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé no tradicional encontro de início do ano, que teve lugar na Sala Régia do Palácio Apostólico. A crise que arrasa a humanidade depende em grande parte da falta daquela paz social que, na óptica cristã, é «uma conexão íntima com a glorificação de Deus e a paz dos homens na terra». A ponto que é precisamente «o esquecimento de Deus» que gera a violência. «Sem uma abertura ao transcendente – reafirma o Pontífice – o homem torna-se presa fácil do relativismo e depois tem dificuldade em agir segundo justiça e em comprometer-se pela paz».
O Papa não hesita em definir ameaças para esta «paz social» os «atentados à liberdade religiosa» que se expressam de tantas formas diversas: das marginalizações da religião na vida social, à intolerância, até à violência «em relação às pessoas, símbolos identitárias e instituições religiosas». E significativamente Bento XVI acrescenta também a negação do direito à objecção de consciência. Por conseguinte, em perigo, admoesta o Pontífice, encontram-se «as “paredes mestras” de cada sociedade que queira ser livre e democrática».
O Papa preocupa-se sobretudo com o perpetuar-se das consequências daquele «pernicioso fanatismo de matriz religiosa que também em 2012 ceifou vítimas nalguns países aqui representados», disse dirigindo-se aos embaixadores. Agir como se Deus não existisse ou até ignorando o seu verdadeiro rosto significa falsificar a própria religião a qual, ao contrário, «tem por objectivo reconciliar o homem com Deus».
O Pontífice enumera a seguir todas as questões mais dolorosas que abalam o mundo de hoje: da situação da Síria à da Terra Santa, da África e da Europa. E conclui significativamente o seu discurso ressaltando a necessidade de leis que tutelem a vida em todas as suas formas, assim como os direitos humanos mais elementares; de recuperar o sentido do trabalho humano e pôr um freio à absolutização do lucro e aos egoísmos de interesses de parte. E pede que, em vez de nos apavorarmos com o índice diferencial entre as taxas financeiras, nos preocupemos com as diferenças crescentes entre os poucos «cada vez mais ricos» e os muitos «irremediavelmente mais pobres».
A três dos temas de maior actualidade tratados no discurso – a violência na Síria, os sofrimentos na Nigéria e a tutela do direito à objecção de consciência – o Papa dedicou os últimos tweets postados esta manhã no final da audiência.