O porta-voz do Vaticano revelou hoje aos jornalistas que a Santa Sé está a estudar uma possível antecipação do início do Conclave para a eleição do sucessor de Bento XVI, que se despede a 28 de fevereiro.
As regras da Igreja implicam uma espera de 15-20 dias após o fim do pontificado, mas o padre Federico Lombardi admitiu que "a situação agora é diferente" da prevista pela constituição apostólica 'Universi Dominici Gregis' (1996), de João Paulo II, dado que não se verificou a morte do Papa.
"Os cardeais que têm de vir a Roma já sabem disso e podem preparar-se com mais tempo", precisou.
O beato polaco determinou que após o momento em que a "Sé Apostólica ficar legitimamente vacante" – morte ou renúncia do pontífice -, os cardeais eleitores presentes "devem esperar, durante 15 dias completos, pelos ausentes" e que passados "no máximo, 20 dias desde o início da Sé vacante, todos os cardeais eleitores presentes são obrigados a proceder à eleição".
"A constituição fala de entre 15 a 20 dias, mas também se diz que é 'para esperar', isto é, para dar o tempo necessário para chegar ao Vaticano aos que tiverem necessidade. Na eventualidade de os cardeais estarem já todos aqui, poder-se-ia interpretar a constituição de uma maneira diferente", declarou o diretor da sala de imprensa da Santa Sé.
O padre Lombardi relatou que a questão tem sido colocada por "vários cardeais" e que está "em aberto".
A 'Sé vacante' inicia-se a 1 de março, um dia após o final do pontificado de Bento XVI, que apresentou esta segunda-feira a sua renúncia durante um encontro com cardeais, no Vaticano.
O limite de 80 anos para a entrada no Conclave, por parte dos cardeais, diz respeito ao primeiro dia da Sé vacante.
Ainda sem data definida para o próximo conclave, o grupo de 117 cardeais com menos de 80 anos e direito a voto no dia 1 de março está assim distribuído geograficamente: Europa - 61, América Latina - 19, América do Norte - 14, África -11, Ásia - 11 e Oceânia - 1.
Destes, 17 têm menos de 65 anos de idade e 41 têm mais de 75.
Os países mais representados são a Itália (28 cardeais eleitores), Estados Unidos da América (11), Alemanha (6), Brasil, Espanha e Índia (5 cada), com mais de metade do total de eleitores.
Neste lote incluem-se dois portugueses: D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, e D. Manuel Monteiro de Castro, penitenciário-mor da Santa Sé.
O último conclave iniciou-se a 18 de abril de 2005, duas semanas após a morte de João Paulo II, e terminaria na tarde do dia 19, com a eleição de Bento XVI como 264.° sucessor de São Pedro, o primeiro Papa da Igreja Católica.
O padre Lombardi adiantou também que o jornalista alemão Peter Seewald, que escreveu o livro-entrevista 'Luz do Mundo', com Bento XVI, se encontrou com o Papa alemão nos meses de novembro e dezembro de 2012, por estar a preparar a redação de uma biografia de Joseph Ratzinger.
Na revista alemã 'Focus', Seewald escreve hoje que nunca tinha visto o Papa tão cansado ou deprimido e que quando lhe perguntou o que é que a Igreja poderia esperar dele para o futuro, Bento XVI terá respondido: "De mim? Não muito. Eu sou um homem velho. A capacidade de ouvir. Acho que o que eu fiz é suficiente".
OC