Henrique Monteiro, ex-diretor do Semanário 'Expresso' sustenta que independentemente da nacionalidade do próximo Papa, este deverá ser alguém com capacidade para continuar a afirmar com autonomia os valores católicos na sociedade.
Em entrevista à ECCLESIA, o jornalista realça que Bento XVI conduziu "muito bem" o "diálogo entre crentes e não crentes", adotando uma "forma de estar na esfera pública" alicerçada na "separação forte e clara entre a Igreja e o Estado", uma ideia que surgiu com o Concílio Vaticano II (1962-1965) e que "seria interessante continuar".
"A Igreja Católica, sobretudo na Europa sul, em países como Portugal, Espanha, Itália, França, Bélgica, viveu muito ao lado do Estado e só recentemente deixou de o fazer", recorda o comentador da Rádio Renascença, que considera "muito importante" que os católicos "se assumam e tenham intervenção social", até enquanto "grupo de pressão".
O jornalista rejeita a ideia de que a afirmação dos valores católicos na esfera pública possa ser considerada como uma "intromissão", uma vez que os não crentes "passam a vida a intrometerem-se na Igreja".
"Basta ver a crítica laica a alguns preceitos da Igreja, como por exemplo a preceitos de ordem sexual, do casamento dos sacerdotes, todos têm opinião sobre isso, não percebendo que a Igreja, como todas as organizações, tem direto às suas preferências, a ter as suas regras e formas de agir", defende Henrique Monteiro.
O antigo membro da direção do Sindicato dos Jornalistas destaca também a importância do sucessor de Bento XVI conseguir reafirmar o cristianismo como parte essencial da "cultura europeia" e do modo de vida do Velho Continente.
"Bem ou mal", foram os valores decorrentes da tradição cristã, nascida no Médio Oriente, em Jerusalém, mas consolidada em Roma, na Europa, que conduziram os povos europeus à situação atual, a uma sociedade "de grande liberdade", com "bastante envolvimento".
"A Europa é o continente onde há menos pobreza, e devemos isso a muitos fatores mas também a fatores de tradição da religião que tivemos", reforça o diretor do 'Expresso'.
Henrique Monteiro declara com a afirmação de que o diálogo que hoje se materializa na União Europeia começou a materializar-se através da Igreja.
"O Papa é em si mesmo um representante e uma voz daquilo que é a cultura europeia e é bom que isso se mantenha", conclui.