«Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado»: foi deste cântico de anúncio dos anjos aos pastores de Belém que o Papa Francisco partiu para a sua mensagem de Natal aos “queridos irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro”.
O Papa convidou “todos a unirem-se a este cântico” – “cântico para todo o homem e mulher que vela na noite, que tem esperança num mundo melhor, que cuida dos outros procurando humildemente cumprir o seu dever.” Um cântico que antes de mais dá “glória a Deus”. “A primeira coisa que o Natal nos chama a fazer – sublinhou o Papa Francisco - é precisamente isto: “dar glória a Deus, porque Ele é bom, é fiel, é misericordioso.”
“Neste dia, desejo a todos que possam reconhecer o verdadeiro rosto de Deus, o Pai que nos deu Jesus. Desejo a todos que possam sentir que Deus está perto, possam estar na sua presença, amá-Lo, adorá-Lo.
Possa cada um de nós dar glória a Deus sobretudo com a vida, com uma vida gasta por amor d’Ele e dos irmãos.”
Mas o cântico dos anjos de Belém anuncia também “paz aos homens”.
“A verdadeira paz – recordou o Papa - não é um equilíbrio entre forças contrárias; não é uma bela «fachada», por trás da qual há contrastes e divisões. A paz é um compromisso de todos os dias, que se realiza a partir do dom de Deus, da graça que Ele nos deu em Jesus Cristo.” O pensamento do Santo Padre dirige-se concretamente às primeiras vítimas de todas as guerras: crianças, idosos, mulheres maltratadas, doentes:
“Vendo o Menino no presépio, pensamos nas crianças que são as vítimas mais frágeis das guerras, mas pensamos também nos idosos, nas mulheres maltratadas, nos doentes... As guerras dilaceram e ferem tantas vidas!”
Como é tradição nesta Mensagem “Urbi et Orbi” (à cidade de Roma e a todo o mundo), o Papa evocou os principais focos de guerra existentes neste momento. A começar pelo conflito na Síria, que tantas vítimas tem provocado, fomentando ódio e vingança. Há que redobrar numa oração insistente, corajosa:
“Continuemos a pedir ao Senhor que poupe novos sofrimentos ao amado povo sírio, e as partes em conflito ponham fim a toda a violência e assegurem o acesso à ajuda humanitária.”
Aludindo sem dúvida à sua iniciativa de oração pela paz que conseguiu, meses atrás, deter a intervenção militar de algumas potências mundiais que se estava preparando, o Papa observou: “Vimos como é poderosa a oração!” E declarou-se “contente sabendo que hoje também se unem a esta nossa súplica pela paz na Síria crentes de diversas confissões religiosas.”
“Nunca percamos a coragem da oração! A coragem de dizer: Senhor, dai a vossa paz à Síria e ao mundo inteiro.”
Passando ao continente africano, o Santo Padre implorou de Deus a paz para a República Centro-Africana, Sudão do Sul e Nigéria:
“Dai paz à República Centro-Africana, frequentemente esquecida dos homens. Mas Vós, Senhor, não esqueceis ninguém e quereis levar a paz também àquela terra, dilacerada por uma espiral de violência e miséria, onde muitas pessoas estão sem casa, sem água nem comida, sem o mínimo para viver.
Favorecei a concórdia no Sudão do Sul, onde as tensões actuais já provocaram diversas vítimas e ameaçam a convivência pacífica naquele jovem Estado.”
Dirigindo-se a Jesus, “Príncipe da Paz”, o Papa Francisco pediu-lhe que converta “por todo o lado o coração dos violentos, para que deponham as armas e se empreenda o caminho do diálogo”. Juntamente com a Nigéria, com tantas vítimas inocentes, foram recordadas também a Terra Santa e o Iraque, para que se possa chegar finalmente a uma situação de verdadeira paz:
“Olhai a Nigéria, dilacerada por contínuos ataques que não poupam inocentes nem indefesos. Abençoai a Terra que escolhestes para vir ao mundo e fazei chegar a um desfecho feliz as negociações de paz entre Israelitas e Palestinianos. Curai as chagas do amado Iraque, ferido ainda frequentemente por atentados.”
Não faltou na Mensagem natalícia do Papa Francisco uma referência explícita – em jeito de oração a Deus - aos deslocados e refugiados, que fogem das perseguições ou procuram simplesmente condições de vida digna:
“Vós, Senhor da vida, protegei todos aqueles que são perseguidos por causa do vosso nome. Dai esperança e conforto aos deslocados e refugiados, especialmente no Corno de África e no leste da República Democrática do Congo.
Fazei que os emigrantes em busca duma vida digna encontrem acolhimento e ajuda. Que nunca mais aconteçam tragédias como aquelas a que assistimos este ano, com numerosos mortos em Lampedusa.”
O Papa pediu ainda ao Menino de Belém que “toque o coração de todos os que estão envolvidos no tráfico de seres humanos, para que se dêem conta da gravidade deste crime contra a humanidade” e não esqueceu “as inúmeras crianças que são raptadas, feridas e mortas nos conflitos armados" e "quantas são transformadas em soldados, privadas da sua infância.” Quase a concluir, uma referência às vítimas da exploração assim como das calamidades naturais, com menção expressa do tufão das Filipinas:
“Senhor do céu e da terra, olhai para este nosso planeta, que a ganância e a ambição dos homens exploram muitas vezes indiscriminadamente. Assisti e protegei quantos são vítimas de calamidades naturais, especialmente o querido povo filipino, gravemente atingido pelo recente tufão”.
“Queridos irmãos e irmãs – concluiu o Papa - hoje, neste mundo, nesta humanidade, nasceu o Salvador, que é Cristo Senhor. Detenhamo-nos diante do Menino de Belém.”
“Deixemos que o nosso coração se comova, deixemo-lo abrasar-se pela ternura de Deus; precisamos das suas carícias. Deus é grande no amor; a Ele, o louvor e a glória pelos séculos!
Deus é paz: peçamos-Lhe que nos ajude a construí-la cada dia na nossa vida, nas nossas famílias, nas nossas cidades e nações, no mundo inteiro. Deixemo-nos comover pela bondade de Deus"