O Papa disse hoje no Vaticano que os cristãos têm de descobrir o “mistério” de Jesus nos sofrimentos da humanidade e superar as “tentações” que “escondem a estrela” de Deus, como fizeram os Magos do Oriente.
“Qual é o mistério onde Deus Se esconde? Onde posso encontrá-lo? À nossa volta, vemos guerras, exploração de crianças, torturas, comércio de armas, tráfico de pessoas... Em todas estas realidades, em todos estes irmãos e irmãs mais pequeninos que sofrem por tais situações, está Jesus”, declarou, na solenidade litúrgica da Epifania, conhecida popularmente como Dia de Reis.
Francisco referiu que a celebração do nascimento de Jesus, o presépio, propõe “um caminho diferente do sonhado pela mentalidade mundana: é o caminho do abaixamento de Deus, a sua glória escondida na manjedoura de Belém, na cruz do Calvário, no irmão e na irmã que sofre”.
A solenidade da Epifania, palavra de origem grega que significa ‘brilho’ ou ‘manifestação’, celebra-se a 6 de janeiro nos países em que é feriado civil; nos outros, como em Portugal, assinala-se no domingo entre 2 e 8 de janeiro.
“Os Magos entraram no mistério. Passaram dos cálculos humanos ao mistério: esta foi a sua conversão. E a nossa? Peçamos ao Senhor que nos conceda fazer o mesmo caminho de conversão vivido pelos Magos”, pediu o Papa.
Francisco convidou todos a sentir a “inquietação” de encontrar a estrela de Deus quando esta se perde de vista “no meio dos enganos do mundo”.
“Que encontremos a coragem de nos libertar das nossas ilusões, das nossas presunções, das nossas «luzes», e que busquemos tal coragem na humildade da fé e possamos encontrar a Luz, Lumen, como fizeram os santos Magos”, acrescentou.
A homilia apresentou estas figuras, que segundo os Evangelhos adoraram Jesus após o seu nascimento em Belém, como “homens sábios, estudiosos dos astros, perscrutadores do céu” que representavam “os homens e as mulheres à procura de Deus nas religiões e nas filosofias do mundo inteiro, uma busca que jamais terá fim”.
Francisco recordou as dificuldades que os Magos encontraram, como a sua passagem pelo palácio de Herodes, onde “embatem numa tentação, ali colocada pelo diabo”.
“O rei Herodes mostra interesse pelo Menino, não para o adorar, mas para o eliminar. Herodes é homem do poder, que consegue ver no outro apenas o rival. E, no fundo, considera Deus também como um rival, antes, como o rival mais perigoso”, precisou.
Depois da “tentação” em Jerusalém, os Magos foram tentados a “rejeitar a pequenez” que encontraram em Belém, mas conseguiram “entrar no mistério”.
“Os Magos são modelo de conversão à verdadeira fé, porque acreditaram mais na bondade de Deus do que no brilho aparente do poder”, sustentou o Papa.
Durante a cerimónia, seguindo a tradição, foi anunciada a data da Páscoa deste ano (5 de abril) e as festas litúrgicas que lhe estão associadas, como o dia de cinzas (18 de fevereiro), no início da Quaresma, ou o Pentecostes (24 de maio), no fim do tempo pascal; foi também anunciado o início do tempo do Advento (29 de novembro), que antecede o Natal.