Papa Francisco iniciou hoje uma visita de 48 horas ao Sri Lanka com a evocação da “herança amarga” da guerra civil e um apelo à reconciliação no país, para que todos se empenhem na sua “reconstrução”.
“Durante muitos anos, o Sri Lanka conheceu os horrores do conflito civil e agora está à procura de consolidar a paz e de curar as feridas desses anos”, declarou, durante a cerimónia de boas-vindas no aeroporto internacional de Colombo.
Nesse sentido, o Papa convidou todos a deixar para trás as “injustiças, hostilidades e desconfianças” para que possam encontrar um futuro de “reconciliação, solidariedade e paz” para a ilha.
“A grande obra de reconstrução deve incluir a melhoria das infraestruturas e responder às necessidades materiais, mas também e sobretudo promover a dignidade humana, o respeito pelos Direitos Humanos e a plena inclusão de cada um”, precisou.
Este processo, acrescentou Francisco, exige a “busca da verdade”, não para abrir “feridas antigas” mas para “promover a sua cura, a justiça e a unidade”.
“É uma tragédia constante do nosso mundo que muitas comunidades estejam em guerra entre elas: a incapacidade de reconciliar as diversidades e as discórdias, sejam novas ou antigas, fizeram surgir tensões étnicas e religiosas, acompanhadas frequentemente por explosões de violência”, observou.
O Papa destacou a tradição de diálogo entre religiões no Sri Lanka e sublinhou que a sua visita é acima de tudo “pastoral”, destacando a canonização do Beato José Vaz, esta quarta-feira.
O missionário do Sri Lanka, como é conhecido, nasceu em Goa e morreu no antigo Ceilão a 16 de janeiro de 1711; foi beatificado por São João Paulo II em janeiro de 1995, também durante uma viagem ao Sri Lanka.
A maioria da população deste país (70%) professa o budismo, seguindo os hindus (12,6%), muçulmanos (9,7%) e os cristãos (7,4%), sobretudo católicos.
“Estou convencido de que os seguidores das várias tradições religiosas têm um papel essencial a desempenhar no delicado processo de reconciliação e de reconstrução que está em curso neste país”, disse o Papa.
Francisco considerou necessário que “todos tenham voz” e possam manifestar as suas preocupações, aspirações e receios.
“Acima de tudo, devem estar prontos para acolher e aceitar-se uns aos outros, a respeitar as legítimas diferenças e aprender a viver como uma única família”, prosseguiu.
A guerra civil que opôs o governo central aos tâmil, do norte do país, acabou em 2009, mas nos últimos anos aconteceram alguns episódios de intolerância religiosa e violência, em especial por parte da maioria budista.
O Papa deixou votos de que os responsáveis políticos, religiosos e o mundo da cultura ofereçam um contributo “duradouro” para o “progresso material e espiritual da população”.
A este respeito, a intervenção assinalou “o desejo da comunidade católica em participar ativamente na vida” da sociedade local.
Francisco foi recebido pelo novo presidente, Maithripala Sirisena, acompanhado por outras autoridades civis e religiosas, tendo recebido uma grinalda de flores, que uma menina lhe colocou ao pescoço.
A cerimónia incluiu a atuação de um coro juvenil, com 200 elementos, que deu as boas-vindas em várias línguas, incluindo o italiano, para além das tradicionais honras militares.
Após os discursos e os cumprimentos às autoridades presentes, o Papa iniciou o percurso de 28 quilómetros até à Nunciatura Apostólica (representação diplomática da Santa Sé), onde vai ficar hospedado; milhares de pessoas acompanham o papamóvel, ao longo das ruas da capital.
Francisco é o terceiro pontífice a visitar as Filipinas (Paulo VI em 1970 e João Paulo II em 1981 e 1995) e o Sri Lanka (Paulo VI em 1970 e João Paulo II em 1995).
Durante esta viagem, vai ter lugar a primeira passagem de um Papa pela região predominantemente tâmil, no Sri Lanka, onde Francisco vai rezar no Santuário de Nossa Senhora do Rosário, em Madhu, para assinalar a “reconciliação” no país, após anos de guerra civil.
O programa de hoje inclui encontros dedicados aos bispos locais, autoridades políticas e líderes de outras religiões.