O Papa encerra quinta-feira a sua visita ao Sri Lanka, na qual lançou vários alertas contra o fundamentalismo e apelou ao diálogo inter-religioso em favor da paz, condenando o uso da fé para justificar a violência.
“A bem da paz, não se deve permitir que se abuse das crenças para a causa da violência ou da guerra. Devemos ser claros e inequívocos ao desafiar as nossas comunidades a viverem plenamente os princípios da paz e da coexistência, que se encontram em cada religião, e denunciar atos de violência sempre que são cometidos”, declarou, durante um encontro com responsáveis das principais comunidades religiosas no Sri Lanka, esta terça-feira.
Num país a recuperar das feridas da guerra civil (1983-2009), Francisco apelou ao respeito pelos Direitos Humanos e pela identidade de todos os membros da sociedade, qualquer que seja o seu credo ou etnia.
Ainda sob a sombra dos recentes atentados terroristas no Médio Oriente, Paquistão, Nigéria ou Paris, Francisco disse ser uma “tragédia constante” que muitas comunidades estejam em guerra entre elas.
“A incapacidade de reconciliar as diversidades e as discórdias, sejam novas ou antigas, fizeram surgir tensões étnicas e religiosas, acompanhadas frequentemente por explosões de violência”, afirmou, ao chegar ao aeroporto internacional de Colombo.
Centenas de milhares de pessoas acompanharam o Papa nas ruas do país, apesar de os católicos representarem apenas cerca de 6% da população, confirmando a dimensão global do atual pontificado.
Um dos momentos centrais da viagem aconteceu junto ao mar, na quarta-feira, quando mais de 500 mil pessoas participaram na canonização de São José Vaz (1651-1711), missionário nascido em Goa, então território português, que acorreu ao antigo Ceilão para ajudar os católicos perseguidos.
“Como nos ensina a vida de José Vaz, a autêntica adoração de Deus leva não à discriminação, ao ódio e à violência, mas ao respeito pela sacralidade da vida, ao respeito pela dignidade e a liberdade dos outros e a um solícito compromisso em prol do bem-estar de todos”, realçou o Papa, na homilia da Missa.
“São José sabia como oferecer a verdade e a beleza do Evangelho num contexto plurirreligioso, com respeito, dedicação, perseverança e humildade. Este é, também hoje, o caminho para os seguidores de Jesus”, acrescentou.
Francisco, terceiro Papa a visitar o país, depois de Paulo VI e João Paulo II, foi o primeiro pontífice a sair de Colombo para visitar a região norte, predominantemente tâmil, onde rezou pela paz e a reconciliação no santuário mariano nacional.
“Acima de tudo, peçamos que este santuário possa ser sempre uma casa de oração e um refúgio de paz. Por intercessão de Nossa Senhora de Madhu, que todos possam encontrar aqui inspiração e força para construir um futuro de reconciliação, justiça e paz para os filhos desta amada terra”, apelou.
Após 48 horas no país, Francisco vai deixar o Sri Lanka às 09h00 locais (03h30 em Lisboa), depois de rezar na capela de Nossa Senhora de Lanka, padroeira da nação asiática, e visitar o instituto Bento XVI, criado após a guerra civil para fomentar o diálogo inter-religioso.
O Papa vai percorrer mais de 4500 quilómetros num voo de uma hora e 15 minutos até às Filipinas, segunda etapa desta viagem à Ásia, onde vai permanecer até segunda-feira, visitando, entre outros locais, a zona atingida pelo tufão Haiyan.