Teve lugar na manhã deste sábado na Basílica Vaticana o Consistório Ordinário Público para a criação de 20 novos cardeais. Na sua alocução o Papa Francisco, comentando o hino à Caridade da 1ª Carta de S. Paulo aos Coríntios (cap. 13), explicou antes de tudo o significado e a missão da dignidade cardinalícia. Porque de dignidade se trata, disse o Papa, mas não honorífica:
“Não se trata de algo acessório, decorativo que faça pensar a uma honorificência, mas de um eixo, um ponto de apoio e movimento essencial para a vida da comunidade. Vós sois junções cardinais e estais incardinados na Igreja de Roma, que «preside à universal assembleia da caridade”
Em seguida o Papa disse que na Igreja, toda a presidência provém da caridade, deve ser exercida na caridade e tem como fim a caridade. E por isso o «hino à caridade» da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios – continuou o Papa - constitui a palavra-orientadora para o ministério cardinalício quando o apóstolo descreve as características da caridade.
A propósito da caridade magnânima e benévola o Papa sublinhou que quanto mais se amplia a responsabilidade no serviço à Igreja, tanto mais se deve ampliar o coração, dilatando-se de acordo com a medida do coração de Cristo:
“Magnanimidade é, em certo sentido, sinónimo de catolicidade: é saber amar sem limites, mas ao mesmo tempo fiéis às situações particulares e com gestos concretos. Amar o que é grande, sem negligenciar o que é pequeno; amar as coisas pequenas no horizonte das grandes …”
Depois, continuou o Papa, a caridade «não é invejosa, não é arrogante nem orgulhosa», e isto é na verdade um milagre da caridade, pois nós todos e em todas as idades da vida sentimo-nos inclinados à inveja e ao orgulho, e as dignidades eclesiásticas não estão imunes desta tentação, advertiu o Papa
O Papa Francisco falou também da caridade que «não falta ao respeito, não procura o seu próprio interesse», o que convida o servidor da Igreja a descentralizar-se e a situar-se no único verdadeiro centro que é Cristo; da caridade que «não se irrita, não leva em conta o mal recebido» e que nos liberta do perigo de reagir impulsivamente, dizer e fazer coisas erradas; e sobretudo do risco mortal da ira retida, «aninhada» no interior, que nos leva a ter em conta os malefícios recebidos; da caridade que «não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade», sublinhando:
“Quem é chamado na Igreja ao serviço da governação deve ter um sentido tão forte da justiça que veja toda e qualquer injustiça como inaceitável, incluindo aquela que possa ser vantajosa para si mesmo ou para a Igreja e, ao mesmo tempo, deve rejubilar na verdade. Portanto, denúncia firme da injustiça e o serviço jubiloso da verdade”.
E por último o Papa falou da caridade que «tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta», em quatro palavras, disse, um programa de vida espiritual e pastoral, para sermos pessoas capazes de perdoar sempre; de dar sempre confiança, porque cheias de fé em Deus; capazes de infundir sempre esperança, porque cheias de esperança em Deus; pessoas que sabem suportar com paciência todas as situações e cada irmão e irmã, em união com Jesus, que suportou com amor o peso de todos os nossos pecados.
E o Papa terminou com um convite aos novos purpurados a serem dóceis à acção do Espírito Santo, pois quanto mais incardinados na Igreja que está em Roma, tanto mais se devem tornar dóceis ao Espírito, para que a caridade possa dar forma e sentido a tudo o que são e fazem.
Durante o Consistório o Santo Padre entregou a cada um dos 20 novos Cardeais o barrete cardinalício, o anel e o título ou diaconia de pertença a uma Igreja de Roma. Aos 3 novos Cardeais dos Países de língua portuguesa couberam as seguintes diaconias: D. Manuel José Macário do Nascimento Clemente: Sant’Antonio in Campo Marzio; D. Arlindo Gomes Furtado: San Timoteo; D. Júlio Duarte Langa: S. Gabriele dell’Addolorata.
Com a realização deste Consistório, o segundo do Pontificado do Papa Francisco, o Colégio Cardinalício fica agora composto de 227 Cardeais, dos quais 125 eleitores e 102 não-eleitores. Os Cardeais provenientes da Europa são 118; da América do Norte, 27; da América do Sul, 26; da África 21; da América Central, 8; da Ásia, 22; e da Oceânia, 5.