O Papa afirma na sua nova encíclica, divulgada hoje, que as preocupações ecológicas têm de estar ligadas à promoção de uma maior justiça social a nível global.
“Uma verdadeira abordagem ecológica torna-se sempre uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres”, escreve Francisco, num texto intitulado ‘Laudato si. Sobre o cuidado da casa comum’.
O Papa dá voz aos pobres de hoje, “que poucos anos têm para viver nesta terra e não podem continuar a esperar”.
A encíclica pede uma maior “ética” nas relações internacionais e fala numa “dívida ecológica”, particularmente entre o Norte e o Sul, que exige respostas de “solidariedade” numa “opção preferencial pelos mais pobres”.
“É necessário que os países desenvolvidos contribuam para resolver esta dívida, limitando significativamente o consumo de energia não renovável e fornecendo recursos aos países mais necessitados”, apela.
O Papa refere que os países em vias de desenvolvimento, “onde se encontram as reservas mais importantes da biosfera”, continuam a alimentar o progresso dos países mais ricos.
Nesse sentido, alerta para a “deterioração do mundo e da qualidade de vida de grande parte da humanidade”, que afeta de modo especial “os mais frágeis do planeta”.
“Já se ultrapassaram certos limites máximos de exploração do planeta, sem termos resolvido o problema da pobreza”, alerta.
Francisco recorda que milhões de seres humanos se “arrastam numa miséria degradante”, enquanto outros “não sabem sequer que fazer ao que têm”, concluindo, por isso, que “o crescimento nos últimos dois séculos não significou, em todos os seus aspetos, um verdadeiro progresso integral”.
O novo documento observa que o aquecimento causado pelo “enorme consumo” de alguns países ricos tem repercussões nos lugares mais pobres da terra, especialmente na África.
“Chegou a hora de aceitar um certo decréscimo do consumo nalgumas partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma saudável noutras partes”, defende.
A este respeito, Francisco recorda os problemas ligados à poluição da água e às doenças que lhe estão relacionadas, “um fator significativo de sofrimento e mortalidade infantil”.
A situação afeta particularmente os mais pobres, que não têm “possibilidades de comprar água engarrafada”, o que pode ser agravado pela “tendência para se privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado”.
“Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável”, escreve o Papa.
A encíclica conclui-se com duas orações redigidas por Francisco, numa das quais se reza pelos “donos do poder e do dinheiro para que não caiam no pecado da indiferença, amem o bem comum, promovam os fracos, e cuidem deste mundo”.