O Papa visitou esta Sexta-feira o centro prisional de Palmasola, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, um local marcado por problemas de sobrelotação e violência, onde pediu melhores condições para os reclusos e uma aposta na reinserção.
“Reclusão não é o mesmo que exclusão, que fique claro, porque a reclusão faz parte dum processo de reinserção na sociedade”, declarou, perante milhares de pessoas reunidas no campo desportivo de um dos pavilhões masculinos.
Francisco convidou todos a trabalhar pela “dignidade” dos presos, admitindo que o centro de reabilitação sofre problemas como “a sobrelotação, a morosidade da justiça, a falta de terapias ocupacionais e de políticas de reabilitação, a violência”.
“A dor não é capaz de apagar a esperança no mais fundo do coração e que a vida continua a jorrar com força em circunstâncias adversas”, declarou.
Palmasola é uma ‘cidade’ de 10 mil metros quadrados, com 5 mil presos, espalhados por vários pavilhões destinados a vários regimes de reclusão, onde em 2013 morreram 30 pessoas, incluindo uma criança, na sequência de confrontos entre detidos e de uma explosão.
O Papa defendeu o fim da “lógica de bons e maus” para passar a uma lógica centrada na “ajuda à pessoa”, com a ajuda de todos, incluindo dos que se encontram detidos, porque não de se pode “dar tudo por perdido”.
Francisco saudou várias pessoas à chegada, incluindo crianças – a legislação boliviana permite que vivam com os pais na prisão, até aos seis anos -, duas das quais se sentaram junto à sua cadeira.
Após os testemunhos de responsáveis da Igreja e presos, com várias denúncias e queixas sobre o sistema judiciário e prisional da Bolívia, o Papa apresentou o exemplo de Jesus na relação com os mais frágeis, marcada por “um amor que levou a sério a realidade dos seus”, é “ativo, real”.
“Um amor que cura, perdoa, levanta, cuida. Um amor que se aproxima e devolve a dignidade. Uma dignidade, que podemos perder de muitas maneiras e formas. Mas, nisto, Jesus é um obstinado: deu a sua vida por isto, para nos devolver a identidade perdida”, prosseguiu.
O Papa apresentou-se aos presos como “um homem perdoado”, “um homem que foi e está salvo dos seus muitos pecados”.
“Não tenho muito mais para lhes dar ou oferecer, mas o que tenho e amo quero dar-vo-lo, quero partilhá-lo: é Jesus, Jesus Cristo, a misericórdia do Pai”, precisou.
Francisco recordou que os apóstolos Pedro e Paulo, discípulos de Jesus, também estiveram presos.
“Nessa circunstância, houve algo que os sustentou, algo que não os deixou cair no desespero, na escuridão que pode brotar da falta de sentido: foi a oração, rezar. Oração pessoal e comunitária”, assinalou.
O pontífice pediu que os reclusos não cedam à “desesperança”, procurando o “rosto de Jesus crucificado” nos momentos em que se sintam “tristes, mal, abatidos”.
A intervenção deixou uma palavra de encorajamento a todos os que trabalham neste Centro, que “realizam um serviço público fundamental”.
“Por favor, peço-vos que continueis a rezar por mim, porque também eu tenho os meus erros e devo fazer penitência. Obrigado”, concluiu o Papa, que recebeu vários presentes dos detidos.
Após esta visita, Francisco seguiu para a igreja paroquial da Santa Cruz, na qual se encontra em privado com os bispos bolivianos.
A cerimónia de despedida da Bolívia vai decorrer no aeroporto internacional Viru Viru, às 13h00 locais (18h00 em Lisboa).
Duas horas depois, o Papa chega à capital do Paraguai, Assunção, terceira etapa da viagem à América Latina que se iniciou este domingo, no Equador.