O Vaticano recebe a partir de Domingo os mais de 400 participantes no Sínodo dos Bispos que durante três semanas debater a situação das famílias, na Igreja e na sociedade.
A assembleia convocada pelo Papa prossegue os trabalhos da reunião extraordinária de 2014, procurando centrar o debate numa dimensão mais propositiva e menos polémica, para sublinhar a importância das famílias, com uma abordagem de “misericórdia” pelas que vivem maiores dificuldades.
As propostas e questões centrais da reunião consultiva de episcopados católicos estão presentes no documento de trabalho (instrumentum laboris), após nova consulta aos católicos de todo o mundo.
O documento procura superar a aparente divisão entre “doutrina” e “misericórdia” que marcou alguns dos debates, afirmando que “a misericórdia é verdade revelada”.
“Para a Igreja, trata-se de partir das situações concretas das famílias de hoje, todas necessitadas de misericórdia, a começar pelas que mais sofrem”, assinala o texto.
Antes de partir para o Vaticano, D. Manuel Clemente disse nas Jornadas Nacionais de Comunicações Sociais, que decorreram em Fátima, que os media deram grande relevância aos trabalhos de 2014, “focando especialmente – muitas vezes unilateralmente - alguns tópicos, como o acesso dos divorciados recasados aos sacramentos, ou o acolhimento das pessoas com inclinação homossexual”.
“Sente-se alguma pressão mediática no sentido de os retomar na próxima assembleia sinodal: importa perceber que ela já não incidirá sobre os ‘desafios pastorais da família’, mas sim sobre ‘a vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo’”, precisou o cardeal-patriarca.
A Conferência Episcopal Portuguesa terá ainda como delegado o presidente da sua comissão para o Laicado e Família, o qual sublinhou a importância deste período de reflexão para que se possa chegar a resultados.
“Estamos a caminhar, neste tempo de reflexão, de preparação para que depois alguma coisa saia”, referiu D. Antonino Dias, bispo de Portalegre-Castelo Branco.
“O Santo Padre quer que no Sínodo se fale abertamente, sem medos, sem receios. Estamos dentro desse processo e aguardamos com esperança que alguma coisa resulte”, acrescentou.
Uma das mudanças provocadas pela assembleia de 2014 foi a simplificação dos processos de nulidade matrimonial, que o Papa sublinhou ser diferente de um “divórcio católico” e sublinhou que a “indissolubilidade” vai ser sempre a doutrina da Igreja.
“O divórcio católico não existe, a nulidade é reconhecida se não houve matrimónio, mas se houve, é indissolúvel”, disse aos jornalistas, no voo de regresso dos Estados Unidos da América.
O documento de trabalho para a próxima assembleia sinodal assinala, a respeito dos católicos que contraíram um segundo casamento, civil, que há várias propostas de “via penitencial”, face a situações de “convivência irreversível”, mas sublinha que isso não implica uma possibilidade automática de acesso à Comunhão eucarística.
O instrumento de trabalho pede comunidades “acolhedoras” para os casais em dificuldade e em “risco de separação”, capazes de acompanhar também os divórcios, tendo em vista a proteção dos filhos.
Após uma recolha de respostas junto das conferências episcopais e outras instituições, o ‘instrumentum laboris’ divide-se em três partes, num total de 147 números, partindo dos desafios que se colocam face ao desconhecimento do ensinamento católico sobre a família e das dificuldades colocadas pela separação entre “sexualidade e procriação”.
O texto lamenta a confusão sobre a “especificidade social” dos vários tipos de união, rejeitando o ‘casamento’ entre pessoas do mesmo sexo, pedindo respeito pela “dignidade” de todas as pessoas, “independentemente da sua tendência sexual”.
No documento, alerta-se para as dificuldades que colocam as famílias em risco, desde as guerras e migrações à crise económica, falando em “órfãos sociais”.
A valorização da mulher, dos mais velhos e das pessoas com deficiência na família, contra “formas impiedosas de estigma e preconceito”, são outros temas em destaque, abordando-se também a crise demográfica e a “revolução biotecnológica” no campo da procriação, bem como o número de “abortos e esterilizações forçadas”.
O “Evangelho da Família, que inclui a defesa da “indissolubilidade” do Matrimónio, é proposto como um “ideal de vida”, apesar de todas as dificuldades sociais e culturais, para comunicar "a esperança".
O próximo Sínodo dos Bispos está em destaque na mais recente edição do Semanário ECCLESIA.