O Papa Francisco apelou este Domingo 1º do Advento na República Centro-Africana ao fim da “espiral” da vingança, num dia em que fez história, ao abrir, pela primeira vez, a porta santa de um Jubileu fora de Roma.
“Uma das exigências essenciais da vocação à perfeição é o amor aos inimigos, que protege contra a tentação da vingança e contra a espiral das retaliações sem fim”, disse, na homilia da Missa a que presidiu em Bangui, perante padre, religiosos, catequistas e jovens católicos.
A celebração começou com a abertura da porta do Ano da Misericórdia (8 de dezembro de 2015-20 de novembro de 2016), convocado pelo Papa, que hoje começou de forma excecional na República Centro-Africana (RCA).
“A todos aqueles que usam injustamente as armas deste mundo, lanço um apelo: deponham esses instrumentos de morte; armem-se, antes, com a justiça, o amor e a misericórdia, autênticas garantias de paz”, pediu Francisco, na Catedral da Imaculada Conceição, que reuniu cerca de 2500 pessoas no seu interior; outros milhares acompanharam a celebração no exterior da Sé.
Para o Papa, o rito de abertura da Porta da Misericórdia na RCA fez hoje de Bangui a “capital espiritual do mundo”.
Durante este rito, Francisco sublinhou que quis visitar “uma terra que sofre há anos a guerra, o ódio, a incompreensão, a falta de paz”.
“Nesta terra sofredora também estão todos os países do mundo que passam pela guerra”, observou, numa intervenção improvisada, à porta da catedral.
“Bangui torna-se a capital espiritual da oração pela misericórdia de Deus”, acrescentou.
O Papa convidou a rezar pela paz “para Bangui, para toda a República Centro-Africana, para todo o mundo, para todos os países que sofrem a guerra”.
Francisco surpreendeu a multidão ao falar em língua sango para pedir “amor e paz”.
Após a fórmula de abertura da Porta Santa, o Papa rezou em silêncio e entrou na Sé de Bangui, à frente da procissão.
Já na homilia da Missa, com a ajuda de um tradutor, Francisco deixou uma saudação a todos os centro-africanos, “os doentes, as pessoas idosas, os feridos pela vida”.
A intervenção convidou os habitantes da RCA a rejeitar “conceções de família e de sangue que dividem”.
“Depois de nós mesmos termos feito a experiência do perdão, devemos perdoar”, defendeu.
Neste contexto, o Papa desejou que os responsáveis da Igreja sejam “artesãos do perdão, especialistas da reconciliação, peritos da misericórdia”.
“Em todos os lugares, mas sobretudo onde reinam a violência, o ódio, a injustiça e a perseguição, os cristãos são chamados a dar testemunho deste Deus que é amor”, precisou.
No início do tempo litúrgico do Advento, tempo de preparação para o Natal no calendário católico, Francisco insistiu na importância da “força do amor que não recua diante de nada”.
“Reconciliação, perdão, amor e paz”, concluiu, sob os aplausos da assembleia.
Na saudação da paz, o pontífice argentino desceu do altar e cumprimentou dois elementos da plataforma inter-religiosa para as negociações de paz: o pastor Nicolas Guerekoyame Gbangou, presidente da Aliança das Igrejas Evangélicas Centro-africanas, e o imã Oumar Kobine Layama, presidente do Conselho Islâmico da RCA.
Após a Missa, o programa da visita papal inclui uma vigília de oração com os jovens da RCA, junto à Catedral de Bangui.