A jornalista Aura Miguel elege as viagens do Papa a África e à América como dois momentos que marcaram a agenda da Igreja Católica em 2015, pelas implicações sociais, políticas e humanas que tiveram.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, a vaticanista da Rádio Renascença destaca um “ano preenchido”, pontificado pelo impulso que Francisco deu à pacificação de alguns dos países mais desfavorecidos do continente africano, e ao “reatar das relações diplomáticas” entre os Estados Unidos da América e Cuba, depois de 50 anos de conflito.
Na sua visita ao continente americano, em Setembro último, o Papa argentino decidiu mesmo entrar no território através de Cuba.
Um gesto que, para a jornalista, “foi muito simbólico” e ao mesmo tempo fez jus à imagem que Francisco tem construído desde que foi eleito em Março de 2013.
“Tudo o que seja ambientes onde o sofrimento é mais evidente, ou as dificuldades de vida são manifestas (…) as viagens dele também servem para chamar a atenção para deixarmos de ser indiferentes às necessidades dos outros”, aponta Aura Miguel.
Foi nesse contexto que o Papa decidiu incluir na sua agenda uma viagem ao continente africano, ao Quénia, ao Uganda e à República Centro-Africana, países seriamente ameaçados por problemas como a guerra, a pobreza e a fome.
“Quando os jornalistas achavam que iam acalmar na reta final do ano”, eis que foram novamente surpreendidos pelo empenho de Francisco em lutar contra “a globalização da indiferença”.
Mesmo em territórios de conflito, em que “foi desincentivado a ir”, recorda a jornalista da Rádio Renascença.
Em África, o Papa “foi a um bairro de lata gigante em Nairobi”, no Quénia, visitou “um campo de refugiados no Uganda” e numa iniciativa “fora do programa” da viagem, deslocou-se a uma escola localizada num dos “bairros problemáticos” de Bangui, a capital da República Centro Africana.
Para Aura Miguel, que acompanhou todas estas iniciativas, Francisco deu um testemunho “extraordinário” que já mereceu “ecos da população e dos próprios líderes” africanos, em reconhecimento pelo “impulso” que o Papa deu a favor “da paz e do perdão”.
Foi em África que o Papa argentino realizou “uma coisa única na história da Igreja”, ao “antecipar a abertura da Porta Santa” do Jubileu da Misericórdia, que tinha início previsto para 8 de Dezembro.
Num lugar que seria “o menos expectável”, a República Centro Africana, “mas onde verdadeiramente” era necessário “remeter para a capacidade de perdoar e para a misericórdia”, frisa a vaticanista, que acompanha o quotidiano da Santa Sé há quase 30 anos.
A nível pessoal, 2015 vai ficar gravado na memória de Aura Miguel pela entrevista que fez ao Papa, em Setembro.
Um momento em que Francisco revelou “um estilo tão próximo e disponível” como o que demonstra quando “saúda os jornalistas a bordo do avião”.
O pedido tinha sido feito durante a primeira viagem papal deste ano, que abrangeu as Filipinas e o Sri Lanka e teve resposta afirmativa meses mais tarde.
“Ele tem esta faceta, de referência mundial e ao mesmo tempo uma paternidade extraordinária, e eu beneficiei disso”, recorda Aura Miguel.