O Papa Francisco reflectiu sobre a “Cruz de Cristo” presente em várias situações da vida, como os “irmãos assassinados, queimados vivos”, em quem não cuida da casa-comum ou dos bens de todos, mas também nas “pessoas boas e justas”.
Na sua oração ao concluir a Via-Sacra desta Sexta-feira Santa, Francisco constatou que ainda hoje a Cruz de Cristo é vista “erguida” nos irmãos “assassinados, queimados vivos, degolados e decapitados” onde às “espadas barbáricas” junta-se o “silêncio velhaco”.
No Coliseu de Roma, alertou para a cruz “nos rostos exaustos e assustados das crianças, das mulheres e das pessoas que fogem das guerras e das violências”, ou nos doutores da letra e “não do espírito, da morte e não da vida”.
Segundo o Papa argentino, esse símbolo é visto “nos fundamentalismos e no terrorismo” dos seguidores de alguma religião que “profanam o nome de Deus”, mas também nos que querem “tirar” Jesus dos lugares públicos e exclui-lo da vida pública, “em nome de certo paganismo laico”.
Nos males que afectam a humanidade, o Papa denunciou ainda que a Cruz de Cristo é vista “nos destruidores da «casa comum»”; nos idosos abandonados, nas pessoas com deficiência, “nas crianças desnutridas e descartadas pela sociedade egoísta e hipócrita” e nos cemitérios “insaciáveis” que se tornaram os mares Mediterrâneo e o Egeu.
Francisco destacou também diversos exemplos da presença da “imagem do amor sem fim e caminho da Ressurreição” em quem faz o bem, “sem procurar aplausos nem a admiração dos outros”; “nos ministros fiéis e humildes”; nos rostos das religiosas e dos consagrados – “bons samaritanos”.
A Cruz de Cristo, segundo o Papa sul-americano, é vista nos voluntários que “generosamente socorrem necessitados e feridos”, em quem é perseguido pela sua fé e “continua a dar testemunho autêntico de Jesus e do Evangelho”.
“Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos que sonham com um coração de criança e que trabalham cada dia para tornar o mundo um lugar melhor, mais humana e mais justo”, constatou, antes de dar a Bênção Apostólica.
Ao longo das 14 estações a cruz foi transportada, entre outras pessoas, por uma família numerosa; por membros da União Nacional Italiana Transporte Doentes a Lourdes e Santuários Internacionais (Unitalsi).
Entre a sexta e a 12 estação foram convidadas pessoa de várias nacionalidades dos cinco continentes, como China; Rússia; Bósnia; Equador e USA; Quénia e República Centro Africana.
O Papa escolheu o cardeal Gualtiero Bassetti, da Diocese de Perugia, para criar as meditações que acompanham a evocação da prisão, julgamento e condenação à morte de Jesus, no esquema das 14 ‘estações’.
Na segunda estação, o prelado italiano destaca que o cristão “não procura o aplauso do mundo, nem o consenso das praças”: “O cristão não adula nem diz mentiras para conquistar o poder. O cristão aceita o escárnio e as humilhações que derivam do amor à verdade.”
Na 3.ª Estação, ‘Jesus cai pela primeira vez sob a cruz’ e dá sentido ao sofrimento dos seres humanos.
“Onde está Deus nos campos de extermínio? Onde está Deus nas minas e nas fábricas onde trabalham as crianças como escravas? Onde está Deus nos barcos que afundam no Mediterrâneo?”, questionou.
Quando ‘Jesus é ajudado por Simão de Cirene a levar a cruz’, na quinta estação, reflecte sobre o sofrimento que “nunca é esperado”: “Como nos comportamos perante o sofrimento duma pessoa amada? Quanta atenção prestamos ao grito de quem sofre, mas vive longe de nós?”
O prelado italiano escreveu também sobre os cristãos perseguidos, o Holocausto, os migrantes e os abusos de menores.