O Papa Francisco agradeceu esta Sexta-feira ao padre e poeta português José Tolentino Mendonça pelas suas meditações sobre uma Igreja “para todos”, na conclusão do retiro de Quaresma que decorreu desde domingo em Ariccia, arredores de Roma.
“Gostaria de agradecer, em nome de todos, pelo acompanhamento destes dias, que hoje se prolongam com a jornada de jejum e oração pelo Sudão do Sul, o Congo e também a Síria”, disse, no final dos Exercícios Espirituais que o sacerdote português orientou para o pontífice e os seus colaboradores da Cúria Romana.
Francisco elogiou em particular as advertências de Tolentino Mendonça contra o “mundanismo burocrático” na Igreja.
“Obrigado por nos lembrar que a Igreja não é uma gaiola para o Espírito Santo, que o Espírito também voa e trabalha fora”, precisou.
O Papa sublinhou as várias citações de autores não-crentes e de outras confissões religiosas, mostrando que o Espírito de Deus “é para todos”.
“Obrigado por este chamamento para nos abrirmos sem medo, sem rigidez, para sermos suaves no Espírito e não mumificados nas nossas estruturas que nos fecham. Obrigado, padre”, acrescentou.
A meditação conclusiva do padre Tolentino Mendonça foi dedicada ao tema “A bem-aventurança da sede”, tema geral das suas reflexões.
“É tão fácil criar barreiras ao invés de pontes. O nosso coração está sempre pronto a se tornar arma de combate”, advertiu o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, para quem esta atitude defensiva é “um perigo para a Igreja”.
O pregador considerou que o verdadeiro fiel não é quem está “saciado” de Deus, mas quem “tem fome e sede de Deus”.
O sacerdote madeirense disse ainda que a Igreja deve aprender com a Virgem Maria a” compaixão, a ternura e a cura que a sede de cada ser humano requer”.
Antes, na nona meditação, o autor e biblista convidou a escutar a sede das periferias: “Não são apenas lugares físicos, são também pontos internos da nossa existência, são lugares da alma que têm necessidade de ser pastoreados”.
“A periferia está no ADN do cristão, aproxima-o do seu contexto originário, mas também ao seu programa. É uma chave indispensável para a sua hermenêutica espiritual e existencial. Em todas as épocas permanecerá, para a experiência cristã, como o lugar privilegiado onde encontrar e reencontrar Jesus”, declarou, numa intervenção divulgada pelo portal de notícias do Vaticano.
O tema escolhido para os exercícios espirituais do Papa Francisco e da Cúria Romana foi ‘Elogio da sede’.
Tolentino Mendonça citou, entre outros, autores como Emily Dickinson, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Antoine de Saint-Exupéry ou o italiano Tonino Guerra.