Foi o que disse o Papa aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro no Angelus deste XVIII Domingo do Tempo Comum, ao inspirar sua reflexão no Evangelho proposto pela liturgia do dia: "Seria belo se vocês lessem hoje o capítulo 12 de São Lucas, versículo 13. É uma bela parábola que nos ensina muito", recomendou.
Francisco começa explicando a cena narrada por São Lucas, em que um homem que se levanta entre a multidão e pede a Jesus para elucidar uma questão jurídica sobre a herança de família. Mas Ele não trata da questão na resposta, e exorta a permanecer distante da ganância, isto é, da avidez de possuir”.
Jesus então, “para dissuadir seus ouvintes dessa busca frenética pela riqueza”, conta a parábola do rico louco, “que acredita estar feliz porque teve a sorte de uma colheita excepcional e se sente seguro pelos bens acumulados”.
De um lado, o rico, que coloca diante de si “os muitos bens acumulados, os muitos anos que esses bens parecem assegurar a ele, e terceiro, tranquilidade e o bem-estar desenfreados.”
De outro, Deus que se dirige a ele, desfazendo todos estes projectos: “em vez dos "muitos anos", Deus indica o imediatismo de "nesta mesma noite, nesta noite morrerás"; no lugar do "gozo da vida" apresenta-lhe o "devolver a vida, devolverás a vida a Deus", com o consequente julgamento."
Trocar o concreto por fantasias
Diante da realidade dos muitos bens acumulados que eram a base sobre a qual o rico alicerçava a sua vida, a pergunta: "E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?"
O Papa recorda então das lutas pela herança, "tantas lutas de família":
“ E tanta gente, todos conhecemos alguma história, que na hora da morte começa a aparecer: os sobrinhos, os netinhos vem conferir: "Mas o que cabe a mim?", e levam embora tudo ”
É nesta contraposição – explica o Papa – “que se justifica a denominação de "louco" - porque pensa em coisas que ele acredita serem concretas, mas são uma fantasia - com a qual Deus se dirige a este homem. Ele é louco, porque na prática ele renegou a Deus, ele não contava com ele”.
Ao final, a advertência do evangelista que “revela o horizonte para o qual todos somos chamados a olhar”: "Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus":
“Os bens materiais são necessários, são bens, mas são um meio para viver honestamente e na partilha com os mais necessitados. Jesus hoje nos convida a considerar que as riquezas podem aprisionar o coração e distraí-lo do verdadeiro tesouro que está no céu.”
Buscar as coisas que têm um verdadeiro valor
Também na segunda leitura proposta pela liturgia do dia, da Carta aos Colossenses, São Paulo nos recorda a buscarmos as coisas do alto, e não as coisas da terra, o que não significa “fugir da realidade”, explica o Santo Padre:
“Isso - dá para entender - não significa fugir da realidade, mas buscar coisas que têm um verdadeiro valor: a justiça, a solidariedade, a acolhida, a fraternidade, a paz, todas coisas que constituem a verdadeira dignidade do homem. Trata-se de direccionar para uma vida realizada não segundo o estilo mundano, mas segundo o estilo evangélico: amar a Deus com todo o nosso ser e amar o próximo como Jesus o amou, isto é, no serviço e no dom de si."
Cobiça, fonte de inquietação e de guerra
"O amor assim entendido e vivido, é a fonte da verdadeira felicidade, enquanto a procura desmedida de bens e de riquezas materiais é muitas vezes fonte de inquietação, de adversidade, de prevaricação, de guerra”:
"A cobiça dos bens, o desejo de ter bens, não sacia o coração, antes pelo contrário, provoca mais fome! A cobiça é como aquele caramelo gostoso: tu pegas um e diz: "Ah, que bom! e depois pega outro e outro. Assim é a cobiça: nunca se sacia. Estejam atentos!"
"Que a Virgem Maria - pediu o Pontíce ao concluir - nos ajude a não ficarmos fascinados pelas seguranças que passam, mas a sermos a cada dia críveis testemunhas dos valores eternos do Evangelho.