O Papa deslocou-se este Domingo à igreja do Espírito Santo em Sassia, junto à Praça de São Pedro, para assinalar o 20.º aniversário da instituição do Domingo da Divina Misericórdia, pedindo que ninguém fique para trás, no pós-pandemia.
“A misericórdia não abandona quem fica para trás. Agora, enquanto pensamos numa recuperação lenta e trabalhosa da pandemia, é precisamente este perigo que se insinua: esquecer quem ficou para trás. O risco é que nos atinja um vírus ainda pior: o do egoísmo indiferente”, disse, na homilia da celebração, sem assembleia, com transmissão online.
O Papa alertou para o descarte dos mais pobres e frágeis, como se a vida apenas melhorasse quando corre bem apenas para si próprio.
“Chega-se a seleccionar as pessoas, a descartar os pobres, a imolar no altar do progresso quem fica para trás. Esta pandemia, porém, lembra-nos que não há diferenças nem fronteiras entre aqueles que sofrem. Somos todos frágeis, todos iguais, todos preciosos”, apontou.
O pontífice desejou que a actual crise possa “mexer” com todos: “É tempo de remover as desigualdades, sanar a injustiça que mina pela raiz a saúde da humanidade inteira”.
Aproveitemos esta prova como uma oportunidade para preparar o amanhã de todos. Sem descarta ninguém, de todos, porque, sem uma visão de conjunto, não haverá futuro para ninguém”.
Francisco, que saiu do Vaticano pela segunda vez desde o início das medidas de isolamento social, disse esta manhã que, uma semana depois da celebração da ressurreição de Jesus Cristo, a Igreja Católica celebra hoje a “ressurreição do discípulo”.
“Deus não se cansa de estender-nos a mão para nos levantar das nossas quedas. Quer que o vejamos assim: não como um patrão, com quem temos de ajustar contas, mas como o nosso papá, que nos levanta sempre”, declarou.
O Papa Francisco apresentou uma reflexão sobre a incredulidade do apóstolo Tomé, perante o anúncio da ressurreição de Jesus, e disse que, neste momento de pandemia, todos têm “medos e dúvidas”, reconhecendo-se “frágeis”.
“Precisamos do Senhor, que, mais além das nossas fragilidades, vê em nós uma beleza indelével. Com Ele, descobrimo-nos preciosos nas nossas fragilidades. Descobrimos que somos como belíssimos cristais, simultaneamente frágeis e preciosos”, referiu.
A Missa assinalou ainda o 20.º aniversário da canonização da mística polaca Faustina Kowalska, responsável pela difusão da devoção à Divina Misericórdia, que inspirou o Papa João Paulo II a dedicar o II domingo da Páscoa a esta celebração.
“Acolhamos também nós, como o apóstolo Tomé, a misericórdia, que é a salvação do mundo. E usemos de misericórdia para com os mais frágeis: só assim reconstruiremos um mundo novo”, disse Francisco.
Numa igreja que se tornou “santuário da misericórdia em Roma”, o Papa recordou que, na primeira comunidade cristã, todos esperaram pelo discípulo que tinha ficado para trás.
“Hoje parece dar-se o contrário: uma pequena parte da humanidade avançou, enquanto a maioria ficou para trás”, lamentou.
A homilia recordou a experiência de vida dos primeiros cristãos, na qual os crentes “possuíam tudo em comum”, como refere o livro dos Actos dos Apóstolos, “vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um”.
“Não é ideologia, é Cristianismo”, sustentou.