O Papa presidiu esta Quarta-feira no Vaticano à Missa da solenidade da Epifania, conhecida popularmente como “Dia de Reis”, em Portugal, convidando olhar para lá do sucesso e do dinheiro, numa sociedade que “dá valor apenas às coisas sensacionais”.
“A alegria do mundo está fundada na posse dos bens, no sucesso ou noutras coisas semelhantes.
Sempre eu no centro, não é? Pelo contrário, a alegria do discípulo de Cristo tem o seu fundamento na fidelidade de Deus, cujas promessas nunca falham, apesar das situações de crise em que possamos chegar a encontrar-nos”, indicou, na homilia da celebração, na Basílica de São Pedro.
“Só o Senhor é digno de ser adorado, porque só Ele satisfaz o desejo de vida e eternidade presente no íntimo de cada pessoa. Além disso, com o passar do tempo, as provas e adversidades da existência – vividas na fé – contribuem para purificar o coração, torná-lo mais humilde e, consequentemente, mais disponível para se abrir a Deus”, acrescentou.
Francisco regressou à presidência das celebrações, depois de ter delegado a mesma nos últimos dias 31 de Dezembro e 1 de Janeiro, devido a uma inflamação no nervo ciático.
A Epifania, palavra de origem grega que significa ‘brilho’ ou ‘manifestação’, celebra-se sempre a 6 de Janeiro nos países em que é feriado civil; nos outros países, assinala-se no segundo domingo depois do Natal, como aconteceu em Portugal, este ano a 3 de Janeiro.
O Papa partiu das figuras dos Magos que, segundo os Evangelhos, tinham como objectivo do seu caminho “adorar” Jesus, após o seu nascimento.
“Adorar o Senhor não é fácil, não é um dado imediato: requer uma certa maturidade espiritual, sendo o ponto de chegada dum caminho interior, por vezes longo. Não é espontânea em nós a atitude de adorar a Deus”, precisou.
É verdade que o ser humano precisa de adorar, mas corre o risco de errar o alvo; com efeito, se não adorar a Deus, adorará ídolos, não há meio termo: ou Deus ou os ídolos”.
Francisco sublinhou a necessidade de aprender a ver para lá do “visível”, que leva os crentes a “adorar o Senhor muitas vezes escondido em situações simples, em pessoas humildes e marginais”.
“Trata-se, pois, dum olhar que, não se deixando encandear pelos fogos de artifício do exibicionismo, procura em cada ocasião aquilo que não passa”, prosseguiu.
A intervenção destacou que esta atitude ajuda a superar as dificuldades da vida, “os fantasmas interiores que apagam a esperança”.
“Quando fixamos a atenção exclusivamente nos problemas, recusando-nos a levantar os olhos para Deus, o medo invade o coração e desorienta-o, gerando irritação, perplexidade, angústia, depressão”, advertiu.
O Papa falou ainda da experiência de “viagem” dos Magos, que implica “uma transformação”.
“A pessoa, depois duma viagem, já não fica como antes; há sempre algo de novo em quem viajou: os seus conhecimentos alargaram-se, viu pessoas e coisas novas, sentiu fortalecer-se a vontade ao enfrentar as dificuldades e os riscos do trajeto”, observou.
Como os Magos, também nós devemos deixar-nos instruir pelo caminho da vida, marcado pelas dificuldades inevitáveis da viagem. Não deixemos que o cansaço, as quedas e os fracassos nos precipitem no desânimo; antes, pelo contrário, reconhecendo-os com humildade, devemos fazer deles ocasião de progredir para o Senhor Jesus”.
Na Missa deste dia, depois do Evangelho, anunciam-se as festas móveis do calendário litúrgico, segundo a fórmula indicada pelo Missal Romano: “Sabei, irmãos caríssimos, que, pela misericórdia de Deus, assim como nos alegramos com o Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, também vos anunciamos a alegria da Ressurreição de Jesus, nosso Salvador”.
Em particular, é anunciada a data da Páscoa deste ano (4 de Abril) e as datas litúrgicas que lhe estão associadas, como as Cinzas, no início da Quaresma (17 de Fevereiro), e o Pentecostes (23 de Maio), além do primeiro Domingo do Advento (28 de Novembro), tempo de preparação para o Natal.