A Igreja não é de direita nem de esquerda, é o templo do Espírito Santo, diz Papa

A Igreja não é de direita nem de esquerda, é o templo do Espírito Santo, diz Papa

O Papa apelou este Domingo 23 no Vaticano à unidade na Igreja Católica, com críticas a quem promove divisões entre “conservadores e progressistas” ou “direita e esquerda”, falando durante a Missa de Pentecostes, que encerra o tempo pascal no calendário católico.

“Hoje, se dermos ouvidos ao Espírito, deixaremos de nos concentrar em conservadores e progressistas, tradicionalistas e inovadores,  direita e esquerda. Não: se fossem estes os critérios, significava que na Igreja se esquecia o Espírito”, disse, na homilia da celebração a que presidiu na Basílica de São Pedro, com a presença de dezenas de fiéis.

A celebração o Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa, evoca a efusão do Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade na doutrina católica.

O Papa deixou vários apelos para o interior da Igreja, pedindo unidade e respeito pela diversidade dos vários carismas.

“Procuremos o conjunto! O inimigo [o demónio] quer que a diversidade se transforme em oposições e, por isso, faz com que se transformem em ideologias”, advertiu.

Francisco questionou também quem procura transformar a Igreja apenas a partir dos seus próprios projectos, sublinhando que esta “é humana mas não é só uma organização humana”.

“A Igreja reforma-se com a unção, a gratuidade da unção da graça, com a força da oração, com a alegria da missão, com a beleza desarmante da pobreza. Coloquemos Deus em primeiro lugar”, sustentou.

A homilia falou do Espírito Santo como “o dom definitivo”, advogado e consolador da humanidade.

“Todos nós, especialmente em momentos difíceis como este que estamos a atravessar, por causa da pandemia, procuramos consolações”, assinalou.

As consolações do mundo são como os anestésicos: oferecem um alívio momentâneo, mas não curam o mal profundo que temos dentro. Dessensibilizam, distraem, mas não curam na raiz. Atuam na superfície, ao nível dos sentidos, e não do coração”.

O Papa referiu-se ao Espírito Santo como a “ternura de Deus em pessoa”, que não deixa ninguém sozinho.

“Irmã, irmão, se sentes o negrume da solidão, se trazes dentro um peso que sufoca a esperança, se tens no coração uma ferida que queima, se não encontras o caminho de saída, abre-te ao Espírito Santo”, apelou.

A intervenção evocou o momento em que os apóstolos, que tinham “renegado Jesus Cristo”, recebem o Espírito no dia de Pentecostes, em que “tudo muda”.

“É o tempo do anúncio feliz do Evangelho, mais do que do combate ao paganismo. É o tempo para levar a alegria do Ressuscitado, não para nos lamentarmos do drama da secularização. É o tempo para derramar amor sobre o mundo, sem abraçar o mundanismo. É o tempo para testemunhar a misericórdia, mais do que para inculcar regras e normas. É o tempo do Paráclito! É o tempo da liberdade do coração, no Paráclito”

Francisco convidou a “viver no presente”, o “único e irrepetível momento para fazer o bem, fazer da vida um dom”.

“Não fazendo grandes discursos, mas aproximando-nos das pessoas; não com palavras empoladas, mas com a oração da proximidade. A proximidade, a compaixão e a ternura são o estilo de Deus, sempre”, precisou.

Após a Missa, teve lugar a tradicional recitação da oração do ‘Regina Caeli’, com peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

“O Espírito é universal, não nos tira as diferenças culturais, as diferenças de pensamento. Não, é para todos, cada um percebe-o na sua própria cultura, na sua própria língua. O Espírito muda o coração, alarga o olhar dos discípulos. Torna-os capazes de comunicar a todos as grandes obras de Deus, sem limites, ultrapassando os limites culturais e religiosos dentro dos quais estavam habituados a pensar e a viver”, indicou Francisco, desde a janela do apartamento pontifício.

Francisco criticou os “grupinhos” dentro da Igreja que “procuram sempre a divisão”, sublinhando que “a Igreja é para todos”.

“O Espírito de Deus é harmonia, unidade. Une as diferenças”, insistiu.

OC