O Papa denunciou nesta Terça-feira, na sua mensagem para o VI Dia Mundial dos Pobres, uma “pobreza que mata”, imposta por uma lógica centrada no “lucro”.
“Quando a única lei passa a ser o cálculo do lucro no fim do dia,
deixa de haver qualquer travão à adopção da lógica da exploração das pessoas: os outros não passam de meios. Deixa de haver salário justo, horário justo de trabalho e criam-se novas formas de escravidão, sofridas por pessoas que, sem alternativa, têm de aceitar esta injustiça venenosa, a fim de ganhar o sustento mínimo”, refere, num texto divulgado pelo Vaticano.
O VI Dia Mundial dos Pobres celebra-se este ano a 13 de Novembro, penúltimo domingo do ano litúrgico, com o tema ‘Jesus Cristo fez-se pobre por vós’ (cf. 2 Cor 8, 9).
“A pobreza que mata é a miséria, filha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos. É a pobreza desesperada, sem futuro, porque é imposta pela cultura do descarte que não oferece perspectivas nem vias de saída”, alerta Francisco.
O Papa sublinha que esta miséria “constringe à condição de extrema indigência” e “afecta também a dimensão espiritual”.
A mensagem sustenta que uma “pobreza libertadora”, do ponto de vista católico, “é aquela que se apresenta como uma opção responsável para alijar da estiva quanto há de supérfluo e apostar no essencial”.
Encontrar os pobres permite acabar com tantas ansiedades e medos inconsistentes, para atracar àquilo que verdadeiramente importa na vida e que ninguém nos pode roubar: o amor verdadeiro e gratuito. Na realidade, os pobres, antes de ser objecto da nossa esmola, são sujeitos que ajudam a libertar-nos das armadilhas da inquietação e da superficialidade”.
Francisco sustenta que, no combate à pobreza, é preciso superar as “retóricas” para “arregaçar as mangas e pôr em prática a fé através dum envolvimento directo, que não pode ser delegado a ninguém”.
O texto alerta para “comportamentos incoerentes” dos cristãos, devido a um “apego excessivo ao dinheiro”.
“Sabemos que o problema não está no dinheiro em si, pois faz parte da vida diária das pessoas e das relações sociais. Devemos refletir, sim, sobre o valor que o dinheiro tem para nós: não pode tornar-se um absoluto, como se fosse o objectivo principal”, precisa.
Nada de mais nocivo poderia acontecer a um cristão e a uma comunidade do que ser ofuscados pelo ídolo da riqueza, que acaba por acorrentar a uma visão efémera e falhada da vida”.
O Papa começa por convidar a uma reflexão sobre o estilo de vida e as “inúmeras pobrezas” do mundo contemporâneo.
“Urge encontrar estradas novas que possam ir além da configuração daquelas políticas sociais concebidas como uma política para os pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres e muito menos inserida num projecto que reúna os povos”, indica, citando a sua encíclica ‘Fratelli Tutti’ (2020).
A mensagem do Papa para a celebração de 2022 foi assinada, simbolicamente, a 13 de Junho, dia da festa litúrgica de Santo António.
Em conferência de imprensa, o Vaticano anunciou que Francisco, através do Dicastério para a Evangelização – na secção que tem a responsabilidade deste Dia Mundial – vai celebrar a jornada com a tradicional celebração eucarística, no dia 13 de Novembro, e iniciativas dedicadas a quem sofre “várias formas de pobreza na sua Diocese de Roma”.
Segundo o arcebispo Rino Fisichella, que falou aos jornalistas, em 2021 foram ajudadas 5 mil famílias, com medicamentos e alimentação; a ajuda chegou ainda a outros 500 agregados familiares, assegurando o pagamento das contas de água, luz, gás, seguros e aluguer.
OC