Papa reflecte sobre o Salmo 22, retomado por Cristo na cruz

pac10210O silêncio divino diante das injustiças humanas e dos pedidos de auxílio dos crentes, motivo de questionamento para fiéis e argumento justificador da inexistência de Deus, constituiu o tema da catequese proferida hoje por Bento XVI no Vaticano.

"Rodeado por inimigos que o perseguem", o autor do Salmo 22 da Bíblia, centro da audiência geral desta manhã, "grita dia e noite por socorro, e no entanto Deus permanece aparentemente em silêncio", assinalou o Papa.

A oração "pede escuta e resposta, solicita um contacto, procura uma relação que possa dar conforto e salvação", mas "se Deus não responde, o grito de ajuda perde-se no vazio e a solidão torna-se insustentável".

A pergunta que o salmista coloca no segundo dos 32 versículos do poema, "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?", foi mais tarde repetida por Cristo na cruz, dando voz a uma inquietação que atravessa a história judaica e cristã.


A dúvida de Jesus exprime toda a sua "desolação" perante o "drama da morte, realidade "totalmente contraposta" ao Deus da "vida", apontou Bento XVI, para quem "a vitória da fé pode transformar a morte em dom da vida, o abismo de dor em fonte de esperança".

O Salmo, um dos mais estudados da Bíblia, "eleva um lamento doloroso a Deus, que parece estar distante, mas o salmista, pela certeza de fé, sabe que virá em seu socorro", referiu o Papa.

Para Bento XVI, o silêncio divino "mina o ânimo do orante": "O salmista não pode crer que a relação com Deus tenha sido totalmente interrompida", pelo que lhe pergunta "o motivo de um abandono tão incompreensível".

A resposta ao dilema de uma divindade que na Bíblia é apresentada como toda-poderosa mas que aparentemente se mostra ausente das angústias humanas reside na confiança: "Nós também, na oração, aprendemos a discernir a realidade para além das aparências".

O Papa apelou aos fiéis reunidos no auditório Paulo VI para se apoiarem "sobre a fé dos outros e sobre a fé da Igreja", que testemunham a "fidelidade" divina: "Ao longo da história bíblica vemos Deus responder aos apelos do seu povo, dando-lhe a salvação".

Nas palavras proferidas em língua portuguesa, Bento XVI saudou a presença dos membros da União Missionária Franciscana provenientes de Portugal e lembrou a festa litúrgica que a Igreja Católica assinala hoje.

"Neste dia da Exaltação da Santa Cruz, deixemo-nos invadir pela luz do mistério pascal, para reconhecermos o caminho da exaltação precisamente na humilhação, colocando toda a nossa esperança em Deus, e assim o nosso grito de ajuda transformar-se-á em cântico de louvor", disse o Papa.