O antigo mordomo do Papa, Paolo Gabriele, e um técnico informático da Secretaria de Estado da Santa Sé, Claudio Sciarpelletti, vão ser julgados por um tribunal do Vaticano devido ao envolvimento no furto de documentos reservados.
Os resultados da fase de instrução, incluindo a decisão do juiz e o requerimento do procurador, ambos do Vaticano, foram hoje anunciados pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi.
Paolo Gabriele, que este domingo completa 46 anos, vai ser julgado por furto agravado de documentos provenientes do apartamento papal, revela a Rádio Vaticano.
O mordomo, detido a 23 de maio, declarou que desviou e fotocopiou documentos pertencentes à Santa Sé e os enviou ao jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, na convicção de estar a prestar um serviço ao Papa.
O funcionário próximo de Bento XVI disse aos investigadores que um "choque, inclusivamente mediático", poderia contribuir para que a Igreja regressasse ao "caminho certo".
O colaborador afirmou que agiu sozinho e que não recebeu dinheiro nem outros benefícios em troca dos documentos.
No apartamento de Paolo Gabriele foi encontrado um cheque de cem mil euros dirigido ao Papa, além dos documentos reservados e objetos de valor oferecidos a Bento XVI.
Paolo Gabriele foi submetido a duas avaliações psiquiátricas que obtiveram resultados opostos: a primeira, que a Justiça do Vaticano adotou, concluiu que as fragilidades psicológicas do antigo mordomo não anulam "a consciência e a liberdade" dos seus atos.
A perícia assinada por Roberto Tatarelli, da Universidade La Sapienza, de Roma, refere que a personalidade de Paolo Gabriele é insegura e se caracteriza por uma "profunda necessidade de receber atenção e afeto", o que, segundo o especialista, a predispõe à manipulação.
Claudio Sciarpelletti, de 48 anos, foi preso a 25 de maio e colocado em liberdade condicional no dia seguinte, recorda a Rádio Vaticano, acrescentando que o seu papel neste caso, denominado de "Vatileaks", é aparentemente secundário.
O padre Federico Lombardi sublinhou que a investigação continua em aberto e que não está excluída a emissão de cartas rogatórias, instrumentos de cooperação judicial internacional, pelo que poderão ser conhecidos novos desenvolvimentos, provavelmente a partir de setembro, mês em que reabrem os tribunais.
O diretor da Sala de Imprensa frisou também que o Papa "respeita" o trabalho e os resultados obtidos pela Justiça do Vaticano.
Esta posição explica a inexistência de pronunciamentos de Bento XVI sobre o caso, que no entanto poderão vir a ocorrer no futuro, referiu o padre Federico Lombardi, acrescentando que o Papa tem sempre o poder de intervir.
RJM